segunda-feira, 30 de maio de 2011

*Resenha* O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini

Sinopse


O caçador de pipas é considerado um dos maiores sucessos da literatura mundial dos últimos tempos. Este romance conta a história da amizade de Amir e Hassan, dois meninos quase da mesma idade, que vivem vidas muito diferentes no Afeganistão da década de 1970. Amir é rico e bem-nascido, um pouco covarde, e sempre em busca da aprovação de seu próprio pai. Hassan, que não sabe ler nem escrever, é conhecido por coragem e bondade. Os dois, no entanto, são loucos por histórias antigas de grandes guerreiros, filmes de caubói americanos e pipas. E é justamente durante um campeonato de pipas, no inverno de 1975, que Hassan dá a Amir a chance de ser um grande homem, mas ele não enxerga sua redenção. Após desperdiçar a última chance, Amir vai para os Estados Unidos, fugindo da invasão soviética ao Afeganistão, mas vinte anos depois Hassan e a pipa azul o fazem voltar à sua terra natal para acertar contas com o passado.



Fazendo o caminho inverso de muitos leitores, eu li primeiro ‘A Cidade do Sol’ de Khaled Hosseini e devo dizer que me apaixonei profundamente pela história e o modo de escrever do autor. Agora que li também O Caçador de Pipas posso ver a maestria com que ele retrata relações de amizade tão profundas e emocionantes.


O Caçador de Pipas mostra a ‘amizade’ entre Amir e Hassan, os dois sendo praticamente opostos derradeiros: Amir, rico, mimado e constantemente em busca da aprovação do pai, Hassan, pobre, analfabeto, dono de um coração e coragem tremendos. Hassan é extremamente devotado a Amir, Amir por sua vez aprecia sua companhia de forma egoísta e covarde. Hassan é de ascendência Hazara, um povo dito descendente de Gengis Khan e de seu exército mongol, possuem traços asiáticos, são mulçumanos xiitas e eram considerados inferiores no Afeganistão, um país de maioria esmagadora de mulçumanos sunitas. Como a maioria dos Hazaras, Hassan age como se realmente fosse inferior a Amir, que por sua vez, tem vergonha de admitir que é amigo de um hazara.


Amir é extremamente influenciado pelo pai, um homem admirado por todos, corajoso e pouco apegado a religião. Por causa dessa influência, Amir procura fazer de tudo para ser o homem que seu pai deseja, mas falha constantemente, enquanto Hassan parece ser o filho que seu pai desejaria que ele fosse, deixando-o enciumado por essa comparação silenciosa.
Num dia de felicidade, quando ao ganhar o campeonato de pipas que acontece todo inverno em seu bairro Amir consegue a aprovação do pai, acontece o ponto de virada nas vidas dos dois garotos. Por covardia Amir não ajuda Hassan num momento de extrema necessidade e paga por esse erro durante o resto de sua vida.



Esse incidente altera a vida do personagem dramaticamente, fornecendo ao romance uma história por si só instigante, mas o pano de fundo histórico-social adiciona um elemento mais arrebatador para a história. Hosseini apresenta ao mundo um Afeganistão completamente diferentes ao qual nos acostumamos desde que o 11 de Setembro abalou as estruturas dos EUA e colocou o país do centro do continente Asiático nas nossas mentes como um lugar árido, dominado por homens de religião radical, impiedosa e temível. O protagonista nos mostra um país simples, com uma religião severa, mas repleto de um povo alegre com fortes costumes e códigos de honra e conduta. Em 1979, a invasão soviética destrói, talvez para sempre, essa imagem bela que Amir tinha de seu país, e que o acaba afastando de lá e o levando aos Estados Unidos.



Talvez por isso o livro tenha figurado em várias listas de mais vendidos, mais influentes e etc. Hosseini nos mostra não só a fragmentação de uma vida atormentada pela culpa e auto-exigência, mas pela fragmentação de sua própria terra. O livro provocou em mim, mais do a empatia pela amizade e as conseqüências entre Amir e Hassan, um olhar totalmente diferente sobre Afeganistão, dando uma lição de não nos deixar levar pelas listas de livros mais vendidos e pelas manchetes sensacionalistas e catastrofistas de uma imprensa parcial.

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