quarta-feira, 6 de julho de 2011

*Filosofia* O desenvolvimento moral e o livro Tempo de Matar de John Grishan

Cena do filme Tempo de Matar


O professor americano Lawrence Kohlberg desenvolveu um trabalho extremamente interessante sobre o desenvolvimento moral. Em outro post sobre Filosofia eu falei sobre a diferença entre a moral e a ética, portanto vou pular essa explicação para falar sobre a teoria de desenvolvimento moral de Kohlberg. Ele identificou 6 estágios de desenvolvimento da moral divididos em 3 níveis: moralidade pré-convencional (nível pré-moral), moralidade convencional e moralidade pós-convencional. De forma superficial, no primeiro nível os valores morais são sujeitos a obediência a uma autoridade externa; no segundo, deve-se cumprir as leis, manter a ordem e fazer o que se espera de nós, no terceiro, esse valores morais são aceitos conscientemente, onde os padrões morais são criados pela sociedade, mas não são absolutos, ou são definidos pela consciência de cada, são autônomos.

Kohlberg passou 20 anos desenvolvendo essa teoria, estudando pessoas de diferentes faixas etárias e lugares. Ele apresentou dilemas morais como o caso Heinz, onde um homem assaltou uma farmácia que produzia um remédio que sua esposa, vítima de um tipo raro de câncer, necessitava mas que estava fora de suas possibilidades financeiras (e o farmacêutico inventor do remédio se recusou a vende-lo por um preço inferior); a partir desses dilemas ele inquiriu os pesquisados se Heinz deveria ter feito ou não o que fez e porquê. O importante não eram as respostas dadas, mas sim as justificativas para essa reposta.

Depois dessa breve (longa) introdução eu proponho a reflexão sobre a moral e tudo o que ela implica, levando em conta os estudos de Kohlberg, no livro Tempo de Matar de John Grishan (veja a resenha aqui). Grishan nos propõe um dilema que é um prato cheio para a reflexão sobre a moral, reflexão essa que percorre todo o livro. O advogado de defesa recebe a missão quase impossível de livrar seu cliente da pena de morte por ter atirado e matado nos dois estupradores e espancadores de sua filha de apenas 10 anos. Por si só o dilema é intrigante, mas há ainda a questão racial dos Estados Unidos, pois a garota e o pai são negros e os estupradores brancos.

Numa situação como essa existem sempre quem é contra e a favor de ‘fazer justiça com as próprias mãos’, com os argumentos de que é preciso se defender quando a justiça não o faz ou que se todos decidirem fazer o mesmo a sociedade entrará num colapso anárquico. Ao meu ver, todos esses argumentos são válidos, mas, como Kohlberg propõe, devemos procurar desenvolver nossa moral e analisarmos dilemas como esse de forma mais profunda, de acordo com as circunstâncias e não somente com juízos pré-concebidos e opiniões universais. É preciso ‘ascender’ aos estágios mais avançados da moral e enxergar que a leis são criadas para manter a sociedade longe do caos e para propiciar justiça a todos os seus membros, ninguém deve se considerar acima delas, mas essas leis não absolutas, então devem ser vistas e revistas a cada caso e modificadas caso todos concordem para que a justiça aplicada de fato seja eficaz e válida.

Em uma análise pessoal, acredito que eu seria incapaz de condenar um pai que agiu dessa forma mesmo que ele não se encaixasse nos padrões de legalmente insano, como o autor trabalha no livro. Claro que seus atos são passíveis de punição, mas será que sua punição não foi recebida ao passar pelo processo de ser julgado por toda a sociedade e saber que, não importa o que ele fizesse, o que aconteceu a sua filha, o crime brutal cometido contra ela, é irreversível?

Fica aí uma questão para reflexão.^^



Bibliografia

Guimarães Barros, Célia Silva – Pontos de Psicologia do Desenvolvimento – Ática, 1993. Capítulo 12 – Desenvolvimento Moral: Os Estudos de Kohlberg.

Grishan, John – Tempo de Matar – Rocco, 2008.

Filmografia

Tempo de Matar (A time to kill), 1996 – Direção: Joel Schumacher

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