sexta-feira, 15 de abril de 2011

*Resenha* Resistência (A história de uma mulher que desafiou Hitler) - Agnès Humbert

Sinopse

Mistura de diário e memória, Resistência foi publicado pela primeira vez em 1946 e é um relato surpreendentemente bem-humorado e irônico de Agnès Humbert. Após a invasão dos alemães em Paris, Agnès, historiadora da arte, resolve fundar junto com seus colegas do museu o primeiro movimento de resistência na capital francesa. Agnès e seus amigos faziam o que podiam: convocar pequenas greves estratégicas, retirar as moedas de circulação, distribuir um pequeno jornal que informava todas as ações do movimento e suas conseqüências. Até que os alemães a prenderam e a levaram para um campo de concentração. Lá os horrores da guerra a atingiram em cheio. Agnès decidiu resistir mais uma vez. E conseguiu.

Resistência é o testemunho vivo de uma época e suas questões, o depoimento pessoal de uma mulher forte que sempre soube que estava do lado da vida e da liberdade.




"Albert Camus escreveu: “Bem aventurados os de coração flexível pois eles nunca se partirão”.


Mas eu me pergunto... Se não se partir não haverá cura. E se não houver cura não há aprendizado. E se não houver aprendizado... não haverá luta. Mas a luta é uma parte da vida, então, todos os corações devem se partir?” Lucas Scott – One Tree Hill – 5ª temporada.


Achei muito difícil começar a falar desse livro. Não porque não gostei ou porque foi difícil de ler, e sim por causa da temática. Seria muito simplista dizer que amei o livro (o que não deixa de ser verdade) e, de fato, gostei tanto que comecei a me indagar o porquê de tanta fascinação.

Pra começar o livro é o diário de Agnès Humbert, uma historiadora de arte que, inconformada com a ocupação nazista na França em 1940, funda com seus amigos um dos primeiros grupos da Resistência francesa. O diário que oficialmente vai de junho de 1940 até 13 de abril de 1941, retrata o cotidiano de Agnès e como ela decidiu fazer alguma coisa a respeito do grande veneno que maculava sua França na época: o Nazismo. Dona de um humor praticamente inabalável, humilde e generosa, porém forte, Agnès foi impossibilitada de escrever após ser presa em 15 de abril de 1941 (mal podia se alimentar quanto mais escrever). Com a ajuda de uma memória invejável, após ser libertada em 1945 põe-se imediatamente a escrever, também em forma de diário, sua vida, seus pensamentos, as pessoas que conheceu durante sua pena de 5 anos de trabalho forçado na Alemanha.

Assim como nos tocamos com a história de Anne Frank, também a de Agnès Humbert nos coloca em posição muito frágil, com suas semelhanças com a primeira (a luta contra o terror nazista narrada através de um diário) e com suas diferenças também. Agnès sobreviveu a essa época negra da história depois de quase 5 anos de humilhação, doenças não tratadas, dor moral e física, fome e condições sub-humanas de vestimenta e trabalho. Ela resistiu e apesar de ter fraquejado algumas vezes (humana como todos nós) ela não permitiu que levassem além de sua liberdade, seu gosto pela vida, sua crença no ser humano, sua força de vontade e capacidade de ver a beleza onde os distraídos e endurecidos pela dor e pelo tempo vêem somente o horror.

Isso tudo me leva à citação do inicio desta resenha e aos meus motivos para admirar esse livro. Gosto de pensar que não nos atraímos ou no interessamos pela história dos outros somente quando esta mostra horror extremo, tristeza, dor ou humilhação. Claro que histórias assim nos inspiram a valorizar o que temos e quem somos ou mesmo rever nossos valores, só que, como a própria Agnès exemplifica com toda a sua vida e sua luta e como Che Guevara sabiamente disse: Há de endurecer sem a perder a ternura. É importante conhecermos histórias assim para que façamos o que for possível para que não se repitam, mas também é essencialmente necessário procurar a beleza, as coisas boas, os exemplos de felicidade para que a vida não tenha só o lado ruim, mas que seja feita de um equilíbrio entre a felicidade e a tristeza, entre o ideal e a realidade, ás vezes injusta. Não nos deixemos cair nesse poço sem fundo de horror e dor, caindo assim no erro de que a vida tem só coisas ruins a nos oferecer. Não deixemos que o melhor de nós pereça por falta de atenção ou de uso. Todo dia é uma oportunidade pra que as coisas sejam melhores, não é preciso chegar ao fundo do poço pra decidir fazer alguma coisa a esse respeito.


“Você sabe aquela visão romântica de que todo o lixo e dor é na verdade terapêutica e bonita, e até poética? Não é verdade. É apenas lixo , e apenas dor. Você sabe o que é melhor? Amor. O dia em que você começar a achar que o amor é supervalorizado, é o dia em que você estará errado. A única coisa errada sobre o amor, a fé e a crença... é não tê-los.” Haley – One Tree Hill – capítulo 18 da 5ª Temporada.

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