segunda-feira, 11 de abril de 2011

*Resenha* A Vida Secreta das Meninas - Sharon Lamb

Sinopse

Este livro revela dois aspectos da vida das meninas que elas tentam manter em segredo: a sexualidade e a agressividade. Como resultado de mais de 120 entrevistas fascinantes com pré-adolescentes e mulheres adultas, o livro revela o que se passa com as meninas quando se sentem em liberdade e longe dos olhares de um adulto: travessuras, brincadeiras sexuais e comportamento agressivo.








O que é uma ‘boa menina’?

Aposto que vem à sua cabeça, quando ouve essa expressão, alguém parecida com a personagem de Jamie Sullivan, do livro Um ano inesquecível (que foi transformado em filme com o nome Um amor para recordar), certo? Ou alguém como a Grace da trilogia Os lobos de Mercy Falls? A irmã mais velha de Elisabeth Bennet, Jane, em Orgulho e Preconceito? Até mesmo a Nora da série Hush Hush... São garotas doces (até certo ponto como sabemos), que obedecem aos pais, são calmas, recatadas, cumprem com suas obrigações se importam com os outros, são femininas, um pouco indefesas... São ‘boas’.

Garotas como Katherine, de Diários do Vampiro, Carmen, da ópera de Bizet, a Duquesa de Merteuil, de As Ligações Perigosas e a pequena e diabólica Lolita de Nabokov são os perfeitos exemplos de meninas más. São maldosas, intensas, interesseiras e principalmente, sexuais e agressivas.

Sharon Lamb no maravilhoso “A Vida Secreta das Meninas”, diz que ao cultivarmos e difundirmos imagens como essas:de que meninas boas são calmas, não têm raiva, que acham que a sexualidade é algo a ser temido e escondido estamos obrigando as meninas e mulheres da nossa sociedade a uma vida em busca de algo que não existe, a perfeição. A idéia de que com as meninas não combina o comportamento agressivo e sexual é completamente errada. A agressividade e a sexualidade são aspectos do ser humano, e não características do sexo masculino.


“Os meninos de nossa cultura têm mais liberdade para realizar atividades transgressoras. Dentro de certos limites, são livres para explorar, para sentir raiva, para experimentar; são livres para ser sexuados, ávidos, insultuosos e pura e simplesmente maus. São restringidos de outras maneiras, muito provavelmente tão perniciosas quanto as que limitam as meninas, mas têm permissão para manifestar sua raiva, sua agressividade. A culpa que as meninas sentem quando realizam esses atos absolutamente humanos é tão intensa que as obriga a se reestruturarem de uma forma que despreza aspectos importantes de sua experiência. Elas precisam, tanto quanto os meninos, quebrar as regras de vez em quando, ser desordeiras, bancar que são importantes e sentir sua sexualidade – nada disso é contrário ao conceito de boa menina, e devemos fazer o possível para dizer isso a elas.”(pág. 249)
Acredita-se que uma mulher com raiva é pior do que muitos homens. E de onde vem essa comparação? Por que a raiva das mulheres é vista como algo surpreendente? Por que a raiva é vista com um sentimento essencialmente masculino?


“Sempre que falamos sobre a raiva das meninas, a conversa quase sempre se voltou para suas manifestações extremas: meninas que matam, meninas que explodem, meninas que não conseguem controlar sua raiva. (...) Hoje elas estão com medo demais de sua própria raiva e a sentem como uma força estranha. O objetivo dos pais e dos educadores deve ser o de cultivá-la, compreendê-la e até de aprofundá-la no caso de muitas meninas, antes mesmo de uma atitude de “não ligar” ou de alguma confrontação. Não fazemos menos com outras emoções. Mas o nosso medo de dar ouvidos à raiva das meninas e grande demais”(pág. 265)
A agressividade ‘secreta’ das meninas pode estar relacionada com a vontade de sentir que ela está no controle, está no poder. E quem pode condenar isso? Quem não gosta de se sentir no comando? Madonna, um ícone de liberação e poder feminino, disse: “É maravilhoso ter poder. Lutei por ele a vida inteira”.
“Hoje o poder é visto como algo bom, mesmo entre as feministas, em parte por causa da expressão “investido de poder”, no sentido de dar conta da própria influência pessoal no mundo, assumindo uma postura ativa em relação aos problemas e lutando contra a própria opressão. Mas há um lado sombrio. Enquanto não aceitarmos o lado sombrio das mulheres e das meninas, inclusive nossa própria agressividade, nossa raiva e nosso desejo de competir, assim como de dominar, vamos perpetuar o mito da boa menina e boa mulher que tanto nos oprimiu durante séculos. Embora as mulheres e meninas tenham de encontrar um caminho para usar a imagem da boa menina em proveito próprio, quando fazem isso escondem esse aspecto sombrio do eu que pode ajudá-las em muitas circunstâncias.” (pág. 286)
E se, ao invés de continuarmos pregando o mito da ‘boa menina’, resolvermos ensinar as meninas (e por que não as mulheres?) a administrarem sua raiva de forma saudável em proveito próprio, de outras meninas e mulheres e da própria sociedade? As meninas não precisam mais ter uma vida secreta. Nós podemos e precisamos admitir a raiva e a sexualidade como parte do que somos e também como um direito que temos enquanto seres humanos. Uma garota que é capaz de aceitar-se como um ser sexual, ao invés de pensar sempre no prazer do outro, vai crescer de forma saudável se vendo como ser que deseja e não como um mero objeto do prazer masculino. Uma menina que é capaz de aceitar que pode sentir raiva sem deixar de ser uma pessoa boa é alguém que vai saber se defender quando for preciso e que não vai fazer o papel de vítima a vida inteira como tantas outras desde que o mundo é mundo.

Enxergar o que é ‘bom’ em coisas diferentes é muito bom. Carmen pode ser tão boa quanto Jane, sua energia e capacidade de lutar e se manter fiel aquilo que quer e deseja é tão louvável quanto a amabilidade de Jane. Sendo assim, além de considerar o livro maravilhoso acho que é de utilidade pública. Todo mundo deveria conhecer A Vida Secreta das Meninas.

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