quarta-feira, 27 de abril de 2011

'Os sofrimentos do jovem Werther' - Johann Wolfgang Goethe

Sinopse

A literatura alemã divide-se em antes e depois de Os Sofrimentos do Jovem Werther, que chega às livrarias brasileiras nesta nova e brilhante tradução de Marcelo Backes.Ao escrever Werther, em 1774, Johann Wolfgang Goethe alcançava sua primeira obra de sucesso e, de quebra, dava início à prosa moderna na Alemanha. Werther não é, simplesmente, um romance em cartas assim como Nova Heloísa de Rousseau ou Pamela de Richardson. Esta que é uma das mais célebres obras de Goethe é o romance de uma alma, uma história interior. Dilacerante, arrebatada é a história de uma paixão literalmente devastadora. Com enorme repercussão quando do seu lançamento, Werther foi um testemunho de como a literatura tinha poder de agir na sociedade. Não foram poucos os suicídios atribuídos ao romance. Johann Wolfang von Goethe nasceu em Frankfurt em 1749 e morreu em Weimar em 1832. Poeta, romancista, dramaturgo, crítico, estadista, tornou-se um dos maiores vultos do pensamento alemão, tendo influenciado várias gerações. Em 1775, a convite do Duque Carlos Augusto, foi administrador de Weimar, onde destacou-se brilhantemente como administrador, financista e estadista. Deixou vasta obra, onde se destacam, entre outras, Werther, Ifigênia, Elegias Romanas (poesia), Fausto, Teoria das Cores, Viagem à Itália, Poesia e Verdade.




“Não sou o único: todos os homens estão sujeitos a sofrer dores e desilusões, e ver seus sonhos frustrarem-se.”
Werther, pág. 101




Quem conhece um pouco a história desse livro sabe que um dos fatos ‘curiosos’ e aterradores em volta dele é que, à época de seu lançamento no século 18, causou uma onda de suicídios entre multidões de leitores, absolutamente identificados com o jovem Werther.



Gostei muito do livro apesar da tristeza e do desespero alucinado do personagem. Acredito que a capacidade de se identificar com um personagem ou com um sentimento que uma obra transparece é um dos determinantes de sucesso e apreço de um livro. O tema é muito complicado e controverso e acredito que identificação de fato seria no mínimo preocupante.



A taxa de suicídio no Brasil, dentre as três causas de morte violenta, foi a que mais subiu (17% na população total e na faixa etária de jovens entre os 15 e os 24 anos) no período de 1998 a 2008. Entre os índices mais elevados de suicídio encontram-se muitas áreas de assentamentos indígenas, como em Amambaí e Paranhos, no Mato Grosso do Sul, que são o topo da lista de suicídios da população total e Dourados no mesmo estado e Tabatinga, no Amazonas, que lideram a lista da população jovem, segundo o Mapa da Violência/2011, divulgado em fevereiro. Contudo, em comparação com outros países o nível de suicídios no Brasil é considerado baixo, ocupando a posição de número 73 na lista dos 100 países pesquisados, com o índice de 4,9 suicídios a cada 100 mil habitantes.



Apesar das estatísticas e do perigo de uma identificação exageradamente apaixonada como aconteceu quando o livro foi lançado, a própria história que inspirou ‘Os sofrimentos do jovem Werther’ (história real acontecida com o próprio Goethe, que se apaixonou por Charlotte Buff, que já estava comprometida e se casou com outro) mostra o outro caminho do sofrimento. Caso Goethe tivesse sucumbido do mesmo mal de seu intenso Werther, o mundo e a Alemanha teriam sido privados de obras como Fausto, Ifigênia e das cartas intensas e melancólicas do jovem Werther.



É impressionante a intensidade, subjetividade e cuidado da descrição, nas cartas do personagem ao amigo, como um jovem de espírito livre, intenso e com imenso apreço pela vida, a natureza e as pessoas sensíveis, vai se eclipsando e sendo engolfado pela iminência de uma decepção profunda: ver a pessoa amada se juntar a outra. A diferença das primeiras cartas para o período em que o noivo da doce Lotte retorna a cidade vai radicalmente se pronunciando a ponto de o jovem sensível e apaixonado de antes se tornar um pobre atormentado por todo e qualquer acontecimento infeliz ligado diretamente ou não a sua vida.



A leitura não é difícil, mas chega a ser aflitiva quando, se aproximando do clímax final o leitor sabe o que está por vir e alguns dos personagens também o sabem, mas espera e até deseja que haja um imprevisto, talvez alguma intervenção inesperada. Em livros assim, envolventes e intensos, é impossível deixar de torcer para um final diferente e acho que é isso que mantém um clássico: a leitura que se renova e provoca quem lê.



“A natureza humana – continuei – é limitada: podemos suportar a alegria, o sofrimento, a dor, mas só até certo ponto; quando ele é ultrapassado sucumbimos. Portanto, aqui não se trata de sabe se um homem é forte ou fraco, mas se é capaz de suportar a medida de seu sofrimento, seja moral ou físico. Considero tão absurdo dizer que um homem é fraco porque se mata quanto chamar de covarde aquele que morre de uma febre maligna.”
Werther, pág. 63




Fontes que ajudaram a escrever essa resenha:



domingo, 24 de abril de 2011

*Resenha* Minha Vida de Menina - Helena Morley

Sinopse


Muito mais do que o diário de garota de província no final do século XIX, Minha Vida de Menina antecipa a voga das histórias do cotidiano ao traçar um retrato vital e bem-humorado do dia-a-dia em Diamantina entre 1893 e 1895.

Publicado pela primeira vez em 1942, o livro é um painel multicolorido daquele momento histórico singular no Brasil, com o sabor e a vivacidade de um diário de adolescente.



Helena Morley era o pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant. Nascida em 1880 em Diamantina, Minas Gerais, Alice escreveu um diário durante seus anos de infância e adolescência, retratando uma época onde a escravidão acabara de ser abolida e os primórdios da República. Com uma linguagem sincera e divertida ela descreve o processo de inovações tecnológicas e a vida na mineração e retrata a formação de uma mulher, seus gostos, personalidade e as relações com a família e amigos.


O livro é muito bom de se ler. Me identifiquei muitas vezes com os pensamentos de Helena, afinal de contas é o diário de uma menina se transformando em mulher e, mesmo se passando entre os anos de 1893 e 1895 (há mais de um século atrás), acredito que certas coisas nas infância e na adolescência, sobretudo na formação e na cabeça de uma garota que continuam as mesmas ou ao menos parecidas.


Incentivada pelo pai a escrever seus pensamentos em um caderno, Helena conta histórias engraçadas e tristes do cotidiano, conta coisas que não conta a mais ninguém, a não ser talvez sua avó, e as relações entre os amigos e a família, regida pela matriarca, Teodora. As festas religiosas e o racismo cordial estão muito presentes em seus relatos, já que fazia parte de uma família extremamente católica e de ter presenciado a época em que a ‘Lei Áurea’ de 13 de maio libertou os escravos.


Terna, vivaz e inteligente, a despeito da opinião da autora sobre si mesma, a escrita de Helena despertou dúvidas sobre a idade da autora ao escrever os diários. Guimarães Rosa, suspeitando de que tenham sido redigidos já na maturidade da autora, contestou que não conhecia em nenhuma outra literatura “mais pujante exemplo de tão literal reconstrução da infância”.
Na minha opinião a vida de menina de Helena Morley enquanto era de fato uma menina e que tal valor literário e histórico se deve a um talento nato para a escrita e concordo com a afirmação de uma querida professora minha de que ela poderia ter sido a Jane Austen brasileira, se houvesse tradição feminina na nossa literatura.



*Mais*


Estou escrevendo uma coluna para o blog Bookworms sobre literatura comparativa. Comparando clássicos (conhecidos ou não) com livros mais atuais ou leves, como forma de nos aproximar dos clássicos sem medo ou receio. No post de estréia, comparo ‘O pardal é um pássaro azul’, de Heloneida Studart, e ‘Minha Vida de Menina’, de Helena Morley.
Vale a pena conferir!












sexta-feira, 15 de abril de 2011

*Resenha* Resistência (A história de uma mulher que desafiou Hitler) - Agnès Humbert

Sinopse

Mistura de diário e memória, Resistência foi publicado pela primeira vez em 1946 e é um relato surpreendentemente bem-humorado e irônico de Agnès Humbert. Após a invasão dos alemães em Paris, Agnès, historiadora da arte, resolve fundar junto com seus colegas do museu o primeiro movimento de resistência na capital francesa. Agnès e seus amigos faziam o que podiam: convocar pequenas greves estratégicas, retirar as moedas de circulação, distribuir um pequeno jornal que informava todas as ações do movimento e suas conseqüências. Até que os alemães a prenderam e a levaram para um campo de concentração. Lá os horrores da guerra a atingiram em cheio. Agnès decidiu resistir mais uma vez. E conseguiu.

Resistência é o testemunho vivo de uma época e suas questões, o depoimento pessoal de uma mulher forte que sempre soube que estava do lado da vida e da liberdade.




"Albert Camus escreveu: “Bem aventurados os de coração flexível pois eles nunca se partirão”.


Mas eu me pergunto... Se não se partir não haverá cura. E se não houver cura não há aprendizado. E se não houver aprendizado... não haverá luta. Mas a luta é uma parte da vida, então, todos os corações devem se partir?” Lucas Scott – One Tree Hill – 5ª temporada.


Achei muito difícil começar a falar desse livro. Não porque não gostei ou porque foi difícil de ler, e sim por causa da temática. Seria muito simplista dizer que amei o livro (o que não deixa de ser verdade) e, de fato, gostei tanto que comecei a me indagar o porquê de tanta fascinação.

Pra começar o livro é o diário de Agnès Humbert, uma historiadora de arte que, inconformada com a ocupação nazista na França em 1940, funda com seus amigos um dos primeiros grupos da Resistência francesa. O diário que oficialmente vai de junho de 1940 até 13 de abril de 1941, retrata o cotidiano de Agnès e como ela decidiu fazer alguma coisa a respeito do grande veneno que maculava sua França na época: o Nazismo. Dona de um humor praticamente inabalável, humilde e generosa, porém forte, Agnès foi impossibilitada de escrever após ser presa em 15 de abril de 1941 (mal podia se alimentar quanto mais escrever). Com a ajuda de uma memória invejável, após ser libertada em 1945 põe-se imediatamente a escrever, também em forma de diário, sua vida, seus pensamentos, as pessoas que conheceu durante sua pena de 5 anos de trabalho forçado na Alemanha.

Assim como nos tocamos com a história de Anne Frank, também a de Agnès Humbert nos coloca em posição muito frágil, com suas semelhanças com a primeira (a luta contra o terror nazista narrada através de um diário) e com suas diferenças também. Agnès sobreviveu a essa época negra da história depois de quase 5 anos de humilhação, doenças não tratadas, dor moral e física, fome e condições sub-humanas de vestimenta e trabalho. Ela resistiu e apesar de ter fraquejado algumas vezes (humana como todos nós) ela não permitiu que levassem além de sua liberdade, seu gosto pela vida, sua crença no ser humano, sua força de vontade e capacidade de ver a beleza onde os distraídos e endurecidos pela dor e pelo tempo vêem somente o horror.

Isso tudo me leva à citação do inicio desta resenha e aos meus motivos para admirar esse livro. Gosto de pensar que não nos atraímos ou no interessamos pela história dos outros somente quando esta mostra horror extremo, tristeza, dor ou humilhação. Claro que histórias assim nos inspiram a valorizar o que temos e quem somos ou mesmo rever nossos valores, só que, como a própria Agnès exemplifica com toda a sua vida e sua luta e como Che Guevara sabiamente disse: Há de endurecer sem a perder a ternura. É importante conhecermos histórias assim para que façamos o que for possível para que não se repitam, mas também é essencialmente necessário procurar a beleza, as coisas boas, os exemplos de felicidade para que a vida não tenha só o lado ruim, mas que seja feita de um equilíbrio entre a felicidade e a tristeza, entre o ideal e a realidade, ás vezes injusta. Não nos deixemos cair nesse poço sem fundo de horror e dor, caindo assim no erro de que a vida tem só coisas ruins a nos oferecer. Não deixemos que o melhor de nós pereça por falta de atenção ou de uso. Todo dia é uma oportunidade pra que as coisas sejam melhores, não é preciso chegar ao fundo do poço pra decidir fazer alguma coisa a esse respeito.


“Você sabe aquela visão romântica de que todo o lixo e dor é na verdade terapêutica e bonita, e até poética? Não é verdade. É apenas lixo , e apenas dor. Você sabe o que é melhor? Amor. O dia em que você começar a achar que o amor é supervalorizado, é o dia em que você estará errado. A única coisa errada sobre o amor, a fé e a crença... é não tê-los.” Haley – One Tree Hill – capítulo 18 da 5ª Temporada.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

*Resenha* A Vida Secreta das Meninas - Sharon Lamb

Sinopse

Este livro revela dois aspectos da vida das meninas que elas tentam manter em segredo: a sexualidade e a agressividade. Como resultado de mais de 120 entrevistas fascinantes com pré-adolescentes e mulheres adultas, o livro revela o que se passa com as meninas quando se sentem em liberdade e longe dos olhares de um adulto: travessuras, brincadeiras sexuais e comportamento agressivo.








O que é uma ‘boa menina’?

Aposto que vem à sua cabeça, quando ouve essa expressão, alguém parecida com a personagem de Jamie Sullivan, do livro Um ano inesquecível (que foi transformado em filme com o nome Um amor para recordar), certo? Ou alguém como a Grace da trilogia Os lobos de Mercy Falls? A irmã mais velha de Elisabeth Bennet, Jane, em Orgulho e Preconceito? Até mesmo a Nora da série Hush Hush... São garotas doces (até certo ponto como sabemos), que obedecem aos pais, são calmas, recatadas, cumprem com suas obrigações se importam com os outros, são femininas, um pouco indefesas... São ‘boas’.

Garotas como Katherine, de Diários do Vampiro, Carmen, da ópera de Bizet, a Duquesa de Merteuil, de As Ligações Perigosas e a pequena e diabólica Lolita de Nabokov são os perfeitos exemplos de meninas más. São maldosas, intensas, interesseiras e principalmente, sexuais e agressivas.

Sharon Lamb no maravilhoso “A Vida Secreta das Meninas”, diz que ao cultivarmos e difundirmos imagens como essas:de que meninas boas são calmas, não têm raiva, que acham que a sexualidade é algo a ser temido e escondido estamos obrigando as meninas e mulheres da nossa sociedade a uma vida em busca de algo que não existe, a perfeição. A idéia de que com as meninas não combina o comportamento agressivo e sexual é completamente errada. A agressividade e a sexualidade são aspectos do ser humano, e não características do sexo masculino.


“Os meninos de nossa cultura têm mais liberdade para realizar atividades transgressoras. Dentro de certos limites, são livres para explorar, para sentir raiva, para experimentar; são livres para ser sexuados, ávidos, insultuosos e pura e simplesmente maus. São restringidos de outras maneiras, muito provavelmente tão perniciosas quanto as que limitam as meninas, mas têm permissão para manifestar sua raiva, sua agressividade. A culpa que as meninas sentem quando realizam esses atos absolutamente humanos é tão intensa que as obriga a se reestruturarem de uma forma que despreza aspectos importantes de sua experiência. Elas precisam, tanto quanto os meninos, quebrar as regras de vez em quando, ser desordeiras, bancar que são importantes e sentir sua sexualidade – nada disso é contrário ao conceito de boa menina, e devemos fazer o possível para dizer isso a elas.”(pág. 249)
Acredita-se que uma mulher com raiva é pior do que muitos homens. E de onde vem essa comparação? Por que a raiva das mulheres é vista como algo surpreendente? Por que a raiva é vista com um sentimento essencialmente masculino?


“Sempre que falamos sobre a raiva das meninas, a conversa quase sempre se voltou para suas manifestações extremas: meninas que matam, meninas que explodem, meninas que não conseguem controlar sua raiva. (...) Hoje elas estão com medo demais de sua própria raiva e a sentem como uma força estranha. O objetivo dos pais e dos educadores deve ser o de cultivá-la, compreendê-la e até de aprofundá-la no caso de muitas meninas, antes mesmo de uma atitude de “não ligar” ou de alguma confrontação. Não fazemos menos com outras emoções. Mas o nosso medo de dar ouvidos à raiva das meninas e grande demais”(pág. 265)
A agressividade ‘secreta’ das meninas pode estar relacionada com a vontade de sentir que ela está no controle, está no poder. E quem pode condenar isso? Quem não gosta de se sentir no comando? Madonna, um ícone de liberação e poder feminino, disse: “É maravilhoso ter poder. Lutei por ele a vida inteira”.
“Hoje o poder é visto como algo bom, mesmo entre as feministas, em parte por causa da expressão “investido de poder”, no sentido de dar conta da própria influência pessoal no mundo, assumindo uma postura ativa em relação aos problemas e lutando contra a própria opressão. Mas há um lado sombrio. Enquanto não aceitarmos o lado sombrio das mulheres e das meninas, inclusive nossa própria agressividade, nossa raiva e nosso desejo de competir, assim como de dominar, vamos perpetuar o mito da boa menina e boa mulher que tanto nos oprimiu durante séculos. Embora as mulheres e meninas tenham de encontrar um caminho para usar a imagem da boa menina em proveito próprio, quando fazem isso escondem esse aspecto sombrio do eu que pode ajudá-las em muitas circunstâncias.” (pág. 286)
E se, ao invés de continuarmos pregando o mito da ‘boa menina’, resolvermos ensinar as meninas (e por que não as mulheres?) a administrarem sua raiva de forma saudável em proveito próprio, de outras meninas e mulheres e da própria sociedade? As meninas não precisam mais ter uma vida secreta. Nós podemos e precisamos admitir a raiva e a sexualidade como parte do que somos e também como um direito que temos enquanto seres humanos. Uma garota que é capaz de aceitar-se como um ser sexual, ao invés de pensar sempre no prazer do outro, vai crescer de forma saudável se vendo como ser que deseja e não como um mero objeto do prazer masculino. Uma menina que é capaz de aceitar que pode sentir raiva sem deixar de ser uma pessoa boa é alguém que vai saber se defender quando for preciso e que não vai fazer o papel de vítima a vida inteira como tantas outras desde que o mundo é mundo.

Enxergar o que é ‘bom’ em coisas diferentes é muito bom. Carmen pode ser tão boa quanto Jane, sua energia e capacidade de lutar e se manter fiel aquilo que quer e deseja é tão louvável quanto a amabilidade de Jane. Sendo assim, além de considerar o livro maravilhoso acho que é de utilidade pública. Todo mundo deveria conhecer A Vida Secreta das Meninas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

*Cinema e Filosofia* A questão ética do filme Um Ato de Coragem

Hoje assistindo ao filme 'Um ato de coragem' (2002), estrelado por Denzel Washington, onde um pai, injustiçado pelo plano de saúde, se vê 'obrigado' a recorrer a medidas extremas - ele tranca e faz reféns os pacientes da ala de emergência de um hospital - afim de que seu filho entre para a lista de pessoas que necessitam de um transplante de coração.
O filme é muito tocante, mostrando a luta de um pai que, embora sua apólice indique que tem cobertura total o seguro se recusa a pagar uma operação muito cara de transplante de coração que o filho necessita. Aliás ainda há o absurdo de ser necessário também uma espécie de pagamento para que o menino simplesmente conste na lista para esperar um doador compatível.


Primeiro gostaria de esclarecer o significado de Ética. Segundo a Filosofia Moral, que estuda a moral e a ética, ética tem a ver com o que é 'bom', é um conjunto de regras de conduta de um individuo ou sociedade. Só pra deixar clara a diferença: moral é referente ao que é 'justo', conjunto de regras que determinam condições justas, equitativas, com respeito e liberdade para os indíviduos. Em suma, existem várias éticas, cada um tem a sua, mas a moral é o que possibilita que essas éticas convivam sem se sobrepujarem ou violarem.

Dito isso, parto para uma análise breve e simples (e mesmo leiga, já que não tenho formação em filosofia. Abordo o tema como curiosa e interessada) da questão ética no filme. A esposa exige que o marido faça alguma coisa para que o hospital não dê alta para o garoto por falta de pagamento. Num ato desesperado e irado o pai por sua vez toma de refém a ala emergencial do hospital, exigindo que o filho tenha o nome incluído na lista para o supracitado transplante. Obviamente a visão de ética do personagem foi turvada ou sofreu modificação pelas frustrações e injustiças que sofreu, levando-o a chegar às 'vias de fato', recorrendo a um ato de violência física e violação dos direitos (como a liberdade, por exemplo) de terceiros. Ou seja, ao filho dele foi negado um direito (direito a saúde e tratamentos que possibilitem a mesma), portanto, ele achou necessário 'negar' a outras pessoas seu direito a liberdade para que reassegurassem o primeiro.

É uma história bem complicada mas como expectadores onipresentes, sabendo da vida, da luta e da situação do pai, é quase automático nos simpatizarmos com ele e até procurar ver com bons olhos mesmo o crime que ele comete. Nos sentimos tocados também porque a história envolve a vida de uma criança, a ameaça a essa vida (já repararam que nos sentimos mais sensibilizados quando histórias extremas como essa envolvem a ameaça da vida de crianças?). Analisando isso tudo, damos a nós mesmos a explicação de que só concordamos com o modo como ele agiu (embora saibamos que não é 'correto', justo para outras pessoas envolvidas nessa equação) porque ele foi levado a isso por uma condição extrema, de 'vida ou morte', e que ele tinha 'boas intenções'. Se observarmos bem a sensação que temos assistindo a dilemas desse tipo é que nos sentimos obrigados a dar essas explicações a nós mesmos embora ninguém mais, a não ser nossa própria consciência digamos assim, está exigindo isso de nós. E é por isso que existe um dilema ético: embora o pai tenha infligido a moral (segundo a definição que vimos anteriormente), sentimos de que alguma forma o que ele fez, depois de todas as reviravoltas, se torna um ato ético (ele agiu de acordo com o que era certo e necessário para ele naquele momento).

Isso me leva a questionar um ponto e o deixo pairando na mente de quem lê como forma de reflexão interna: A ética é um elemento sujeito ao tempo, aos momentos e situações?


Fontes de informação para a escrita do texto:


*Arte* Paula Rego na Pinacoteca


Paula Rego é uma das mais importantes artistas contemporâneas portuguesas. Em sua obra aborda temas como violência, jogos de poder e a situação da mulher.
Nascida em 1935, filha única de uma família próspera de classe média alta, Paula Rego cresceu durante o regime de Salazar e foi para a Inglaterra aos 16 anos de idade. Estudou na Slade School of Art onde conheceu e se casou com o artista Victor Willing.

Recebeu em 1962 uma bolsa de estudos da Fundação Gulbenkian, Portugal, podendo assim dar continuidade ao seu trabalho.

Foi eleita Personalidade Portuguesa do Ano pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal e recebeu da rainha Elisabeth II por sua contribuição para as artes o grau de Dama Oficial da Ordem do Império Britânico. Que chique, né?


"O Caimento"


Isso foi só uma pequena intrudução sobre a vida e a obra da artista para podermos entrar no assunto de fato que é a exposição de Paula Rego na Pinacoteca de São Paulo que começou no dia 19 de março e vai até o dia 5 de junho. É uma oportunidade, visitando a exposição que está em ordem cronológica, de conhecer uma importante artistas portuguesa. Eu mesma não a conhecia até ler uma matéria sobre ela e sua exposição na revista Vogue e fiquei super interessada pois na matéria dizia que um de seus quadros foi inspirados no Jardim das Delícias de Hieronymus Bosch (sou louca pelas obras dele!). Sendo assim é óbvio que já me simpatizei pelo trabalho da artista, assim como estou sempre buscando incentivar bons artistas, principalmente do sexo feminino, que infelizmente ainda hoje têm de 'lutar' por um espaço de respeito na sociedade.


*Mais*


Hoje, dia 7 de abril, ás 19:30, haverá uma palestra no auditório da Pinacoteca do Estado sobre Paula Rego. A entrada é franca e as senhas devem ser retiradas na entrada 1 horas antes do evento.








"A sala de Shakespeare"


Fontes:


quarta-feira, 6 de abril de 2011

*Resenha* Melancia - Marian Keys

Sinopse

Foi demais da conta para Claire o dia do nascimento da sua filha. Ao acordar no quarto do hospital depara com o marido olhando-a na cama. Deduzindo tratar-se de algum tipo de sinal de respeito, ela nem suspeita de que ele soltará a notpicia da sua iminente separação: "Ouça, Claire, lamento muito, ms encontrei outra pessoa e vou ficar com ela. Desculpe quanto ao bebê e todo o resto, deixar você desse jeito..." Em seguida, dá meia-volta e deixa rapidamente o quarto. Defato, ele sai quase correndo.Com 29 anos, uma filha recém-nascida nos braços e um marido que acabou de confessar um caso de mais de seis meses com a vizinha também casada, Claire se resume a um coração partido, um corpo inteiramente redondo, aparentando uma melancia, e os efeitos colaterais da gravidez, como, digamos, um canal de nascimento dez vezes maior que seu tamanho normal! Não tendo nada melhor em vista, Claire volta a morar com sua excêntrica família: duas irmãs, uma delas obcecada pelo oculto, e a outra, uma demolidora de corações; uma mãe viciada em telenovelas e com fobia de cozinha; e um pai à beira de um ataque de nervos. Depois de muitos dias em depressão, bebedeira e choro, Claire decide avaliar os prós e contras de um casamento de três anos. E começa a se sentir melhor. Aliás, bem melhor. É justamente nesse momento que James, seu ex-marido, reaparece, paea convence-la a assumir a culpa por te-lo jogado nos braços de outra mulher.. Claire irá recebê-lo, mas lhe reservará uma bela surpresa...



Eu não ia fazer a resenha desse livro (confesso que o havia achado ‘banal’ demais para ser resenhado para o blog), mas depois de pensar um pouco achei melhor fazê-lo, pois, depois de alguma pesquisa e leitura de resenhas do livro, percebi que as pessoas que o lêem gostam muito e elogiam bastante (os números de venda no mundo inteiro que o digam. Então,correndo o risco de desagradar muitos fãs do livro e da escritora, eu vou colocar minha análise e opiniões sinceras sobre o livro.

Primeiro de tudo, não consegui encontrar nada de especial na história: o marido a abandona logo depois de ela dar a luz, ela vai para a casa dos pais na Irlanda, entra em depressão, conhece um cara lindo de morrer que devolve parte de sua auto-estima, etc, etc, etc... O que tem de tão especial e diferente nessa história que justifique tamanho sucesso?

A escrita da autora? A escrita de Marian Keys (em 1ª primeira pessoa no livro) me fez pensar estar lendo a história de uma adolescente de 15 anos ao invés da de uma mulher de 30. Não achei as piadas muito engraçadas nem tão inteligentes. Suas expressões são repletas de clichês e muitas cenas são manjadas e batidas demais. As descrições de lugares, pessoas e situações são vagas e fracas.

Retratar a vida e a cabeça de uma mulher de 30 anos? Como já disse a cabeça de Claire, a personagem principal, para a de uma menina de high school, eternamente preocupada com o ‘excesso’ de peso e a aparência ‘de matar’. Sinceramente, a personagem não convence, não parece real, parece excessivamente bem construída e reflete os milhares de problemas das milhões de mulheres pelo mundo a fora, numa só mulher, receita infalível para o autor que deseja que as leitoras se identifiquem com sua personagem e, conseqüentemente, apreciem o seu livro. Afinal quem é a mulher que não se simpatizaria com uma moça que acaba de dar a luz, é totalmente insegura e descobre que seu marido a está traindo e vai deixá-la por uma mulher mais velha e menos bonita do que ela? E quem não quer se comparar a uma mulher que, embora tenha problemas de auto-estima, é bem mais bonita do que pensa e encanta até mesmo os homens considerados ‘inatingíveis’?

Humor inteligente e instigante? Sinceramente não acho as observações e comentários de Claire engraçados. São bem infantis e aclichezados e muitas vezes me faziam ter vontade de jogar o livro longe.

A lição de que ‘tudo na vida se supera’ e ‘o que não nos mata, nos fortalece’? Odeio livros de auto-ajuda e Melancia me pareceu justamente isso, disfarçado de romance de chick-lit (‘literatura para meninas’). O livro mostra como a personagem adquiriu forças para cuidar de sua filha e continuar sua vida, apesar de ter sido abandonada pelo homem que ama de maneira tão cruel. Não existiu nada inspirador nisso, tantas mulheres fazem isso todos os dias, lutam silenciosamente e nem sequer são notadas por isso? Claire se comporta muitas vezes de maneira egoísta, mimada e irritante e apesar de algumas criticas bem pensadas e medidas aos homens, é incapaz de resistir a bom par de braços fortes e bons e protetores 1,80m. Ela também parece ser incapaz de tomar uma decisão por conta própria, precisando ouvir mil e uma opiniões de familiares, amigos e conhecidos antes de tomar, e com muito medo, a decisão óbvia e menos autodestrutiva e depreciativa.

Enfim, decidi escrever essa resenha porque me preocupa o fato de tantas garotas e mulheres gostarem e elogiarem o livro e a personagem sem haver, contudo, feito uma análise mais profunda e inteligente do que foi lido. Na verdade, até li em alguns lugares que o livro se assemelha as novelas que o Brasil tanto aprecia, e, eu tenho de dizer, isso é um ponto positivo? Deixo aqui essas questões para serem pensadas e analisadas sobre a forma atual de retratar o feminino e a forma como as mulheres enxergam a si mesmas. Afinal de contas os escritores de hoje retratam a sociedade de hoje. É assim que nós mulheres somos e queremos que nos vejam? Aconselham que leiam o livro e não se desanimem pela minha opinião nessa resenha. Acredito que é sempre bom que cada um leia para tirar suas próprias conclusões, só aconselham que leiam e realmente prestem atenção ao que estão lendo e não se deixem levar pelo ritmo e história leves pois não é só isso que faz um livro ser bom de verdade.